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Mass Effect: Andromeda | Crítica

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Foram exatamente 72 horas de jogo necessárias para quase platinar o game (faltaram duas conquistas que vão me obrigar a jogar outra vez), reconhecer 86% do Aglomerado de Heleus, finalizar todas as missões de aliados, todas as missões principais e certamente mais 80% das outras sidequests e ainda que com diversos problemas no percurso, Mass Effect: Andromeda valeu cada segundo.

Eu sempre fui um grande fã da trilogia Mass Effect, já fiz três podcasts falando por horas e horas sobre o nosso amado Comandante Shepard e companhia e ficava esperando cada notícia do suposto Mass Effect 4. Quando vi o tema do jogo, uma busca por uma nova casa em Andromeda, eu não poderia ter ficado mais empolgado e estava acompanhando de perto cada trailer, cada informação, cada tweet dos funcionários da Bioware e tudo que eu pudesse absorver do jogo antes de seu lançamento, por isso foi um balde de agua fria ler todas as críticas negativas em relação ao game nos últimos dias e por mais que a maioria delas tenha razão e Andromeda esteja lotado de problemas, o jogo não deixa de ser extraordinário e um dos melhores jogos da geração.

Para tirar logo do caminho, vamos falar sobre os problemas do game e sim, ele tem bastante problemas, para começar as animações que são terríveis em quase todos os momentos, elas dão glitch por diversas vezes e ainda quando não dão, elas são simplesmente inexpressivas, parece que estamos assistindo um filme em que todos os personagens são interpretados pelo Ben Affleck e isso é um pesadelo para alguns, outros conseguem abstrair.


O jogo também está tomado por bugs, chegando a se parecer com um jogo da Bethesda. Em determinado momento uma cena bem imersiva e importante para o game a Peebee e o meu personagem simplesmente passaram a ocupar o mesmo lugar no espaço e ainda que o Ryder e a Peebee tenham tido uma cena um pouco semelhante ants, sobre estarem um dentro do outro, não era bem desse modo e a cena em questão que devia ser divertida e emocionante com toda a tripulação, virou um show de horrores, em outros momentos algumas missões simplesmente não podiam ser completadas sem eu usar um save anterior, personagens desapareciam no meio de um diálogo, travavam em diversos momentos, entravam na famosa T-Pose durante as batalhas, caiam para dentro da geometria do jogo, eu cai diversas vezes pela geometria do jogo, o controle de respostas para conversas não respondia, algumas respostas eram escolhidas automaticamente, personagens se apoiavam no vazio, texturas não eram carregadas ou pipocavam na tela muitos segundos depois de quando deviam aparecer, a Tempest ficava com partes faltando e eu podia ver as estrelas além do chão e das paredes que não estavam lá e muitas outras coisas que eu nem consigo mais lembrar e sim... isso tudo foi só o que eu experimentei, não é uma coleção de reclamações na internet, todas essas coisas que eu mencionei aconteceram durante as minhas 72 horas de gameplay e todas elas mais de uma vez.

Rapidinho ainda nos problemas estão a cena chatíssima para se trocar de planeta, sério, são 10 segundos perdidos cada vez que você precisa só trocar de planeta, o dobro se você precisar troca de sistema e as vezes você fica apenas 1 segundo no planeta... 20 segundos de cena para 1 segundo de gameplay, isso precisa ser consertado imediatamente, pois é terrível e bem simples de resolver. E é claro, os puzzles de Sudoku, sério Bioware, se eu quisesse jogar Sudoku eu pegava meu celular, vocês são capazes de criarem puzzles melhores, certo? Eu não me diverti e não usei minha cabeça, googlei todos, não serviram de nada.

Entretanto os problemas reais de Mass Effect: Andromeda ficam nesses dois quesitos, animações e bugs, ambos que podem e eu acredito que devem ser consertados em patches futuros, ainda que as animações certamente sejam um trabalhão para se resolver e que a Bioware sem dúvida vai precisar se virar para consertar. 

Outros problemas recorrentes que muitas pessoas reclamam por aí, como a falta de qualidade dos menus, o cover automático, a impossibilidade de fazer certas ações e uma suposta má-qualidade na escrita do jogo, são reclamações bem abstratas e até um pouco ranzinzas.

Os menus do jogo fazem um bom trabalho para mim, especialmente no quesito de organizar missões, pois a quantidade de missões que esse jogo te dá é colossal. Sobre a impossibilidade de dar ordens ao seu esquadrão, bem, você pode dar ordem para eles se posicionarem e dar ordem de qual inimigo eles devem atacar, o resto a I.A. do jogo cuida sozinho, é basicamente a mesma coisa que nosMass Effect anteriores. O cover automático é um pouco difícil de se acostumar no começo, mas depois de um tempo eu comecei mais e mais a gostar da ideia, no fim das contas eu ainda preferia ter um botão para fazer o cover, mas o modo automático é uma mecânica válida de gameplay, sobre certas coisas que não dá para ser feitas, como trocar de armas durante a partida sem precisar entrar em um menu, bem, você só precisa segurar X ou quadrado para isso (eu cheguei a ler uma crítica de um grande site gringo dizendo que esse era um dos maiores problemas do jogo, ou seja, um dos maiores problemas do jogo na verdade não existe). O jogo não faz um bom trabalho em te explicar como algumas mecânicas funcionam e isso pode ser uma questão levantada, aliás, o jogo segura muito pouco a sua mão para tudo, o que é uma coisa que eu sempre vejo muita gente dizendo que quer nos jogos modernos, mas quando é feito todos reclamam.


Sobre a escrita, ela não é nem de longe ruim, ela é no máximo inconstante, assim como em todo Mass Effect, aliás, se você acha que a trilogia original de Mass Effect tem um grande roteiro talvez seja sua memória nostálgica falando por você, ainda que a aventura de Shepard tenha momentos brilhantes, o Shepard não estava imune a canastrices e a frases que fariam qualquer um revirar os olhos. O mesmo acontece com o Ryder e companhia, enquanto vemos belos debates sobre fé em um mundo sem muitos mistérios, que não é uma debate comum nos videogames, também somos obrigados a escutar as coisas mais clichês imagináveis saindo da boca de diversos personagens, enquanto debatemos com uma A.I. sobre o sentido da vida, somos obrigados a fazer uma missão sobre um cara que acha que namora uma stripper e a stripper discorda. Ou seja, o Mass Effect clássico.

Agora entrando nas qualidades, mas sem sair da área do texto, é impressionante o quanto certos momentos do jogo são de fato emocionantes e empolgantes. Os personagens do game não são brilhantes por si só, mas eles certamente crescem em você depois das dezenas de horas que o jogo leva para ser concluído. Não temos nenhuma Tali, nenhuma Liara, nenhum Thane ou Garrus aqui, mas a sua própria forma, esses personagens tiveram 3 jogos para crescerem e assim como o próprio Ryder, protagonista do game que está se descobrindo, nós ainda estamos descobrindo esses personagens. Eu simpatizei com Peebee desde o primeiro trailer, mas achei ela um pouco chata no início do jogo e é impressionante o quanto a minha simpatia inicial se confirmou com o tempo, o mesmo vale para Drack, Vetra e Jaal, todos companheiros um pouco decepcionantes no início, mas que crescem bastante na aventura. A Cora e o Liam por outro lado são bem chatos o jogo inteiro, especialmente o Liam, mas até eles têm os seus momentos, a missão final de lealdade do Liam é hilária.

Os outros membros não jogáveis da sua tripulação se saem melhor logo de cara, Suvié uma cientista que acredita em deus em um mundo que tem poucos mistérios, Kallo, um piloto salariano da Tempest que tem o difícil trabalho de substituir Joker, o piloto da Normandy e só consegue porque na verdade nem tenta, ele é outro personagem completamente e nos ganha por isso. Gil, o engenheiro da nave que é gay, mas vive em conflito por não contribuir com a “reprodução” humana em Andromeda, até perceber que nada impede que ele contribua para isso sem deixar de ser ele mesmo. SAM, a inteligência artificial de Ryder, não tem nem de perto o mesmo carisma e personalidade que EDI tinha na trilogia original, porém é muito mais central e importante para a história do que nossa querida EDI jamais foi e ainda levanta boas questões o tempo todo, sobre a natureza da vida e da vida artificial.


Assim como os personagens, a trama de Andromeda é menos épica que o da trilogia original, entretanto, ela é muito mais aproveitável num contexto de ficção científica, enquanto Shepard era um soldado, Ryderé um explorador, enquanto Shepard era um líder nato, Ryder se vê colocado nessa posição por não haver outra escolha, ou é isso, ou todo o seu povo morre.

É tão fácil se conectar a trama de Mass Effect: Andromeda, que é quase impossível se negar a fazer a sua tonelada de sidequests, diferente de jogos maravilhosos como The Witcher 3, onde o Geralt era parado no meio de sua busca por Ciri por um velhinho que queria que matássemos um bicho feio qualquer em um pântano e nós simplesmente negávamos pois isso não parecia importante. Mas aqui, como negar a missão para rastrear uma mulher com uma doença contagiosa solta em uma estação espacial? Como negar resolver o primeiro caso de assassinato da galáxia? E como se negar a salvar o primeiro bebê concebido e nascido nessa galáxia?

Em termos de gameplay, basicamente todas as missões são parecidas, vá a um local, atire nas caras de uma das 10 ou 15 variáveis de inimigos que temos no jogo, escaneie algo com sua omnitool e faça uma escolha no final. Muitas missões secundárias podem ser memoráveis ou decepcionantes, pois no fundo elas são quase idênticas, mas a trama que move elas é o que faz valer a pena ou não e as escolhas no final de cada decisão podem ser bastante difíceis de serem tomadas, ainda que eu não tenha percebido consequências graves para elas.

E já que começamos a falar de gameplay, vamos entrar na verdadeira joia de Mass Effect: Andromeda, que é o gameplay. Em termos de coisas que você faz fora de combate, a variedade é pequena, mas é usada de forma esperta. Mesmo eu tendo concluído praticamente todas as missões do jogo, que basicamente envolvem escanear coisas com sua omnitool, poucas vezes esse trabalho pareceu repetitivo, pois o jogo usa essa tarefa em contextos bastante variados, é óbvio que você deve ter umas 50 missões de escanear consoles pura e simplesmente, mas você também vai ter escanear pegadas no chão, que repete a mecânica, mas faz com que pareça que você está rastreando o caminho de alguém, há portas que não abrem e nesses caso você precisa usar seu scaner para descobrir o caminho que a fiação da porta faz até o lugar em que essa fiação provavelmente está quebrada e você precisa consertá-la, enfim, o jogo usa o contexto e a simpatia pela trama em suas missões para disfarçar a inevitabilidade da repetição em um jogo tão longo de forma brilhante.


Fora de combate ainda temos a exploração, temos 5 planetas e 1 asteroide para explorar, quase todos eles com mapas enormes e belíssimos, além disso extremamente variados, mesmo dois planetas que tem um “bioma em comum” como Eos e Elaadeen, não podiam ser mais diferentes na prática enquanto você passeia por eles. Um desses mapas exploráveis tem até uma diferença de gravidade que seria um elemento muito bem-vindo a ser explorado no futuro da franquia. A maioria das missões faz você ir e vir dos planetas o tempo, fazendo com que um planeta do início do jogo e que você já tenha levado sua viabilidade a 100%, nunca fique para traz e esquecido.

Como ferramenta de exploração você tem o Nomad, seu novo veículo de transporte e que diferente do Mako do primeiro jogo, é uma delícia de se pilotar. O veículo tem dois modos, um modo de velocidade que mal pode subir um morro, mas é bem rápido e um modo de tração que é mais lento, mas por outro lado consegue quase subir paredões verticais. Se você souber usar esses dois modos na hora certa e comprar algumas das melhorias disponíveis para o Nomad, você vai amar cada momento que pilota o veículo e vai até ignorar detalhes como a impossibilidade da duração e resistencia dele e o fato dele sempre cair com as rodas para baixo, provavelmente ele tem algum aparelho gravitacional mágico ou o bom e velho pão com manteiga virado para baixo preso no chassi dele.

Apesar de tudo isso ser legal, a maior diversão do jogo de fato é o combate e apesar dele ainda parecer com Mass Effect no sentido clássico, ele foi muito melhorado para esse jogo. O seu booster para pulo e esquiva dá uma nova dimensão ao combate, permitindo abordagens que seriam impossíveis no game anterior. Você se movimenta tanto durante a batalha que até faz sentido que você não tenha um botão para cover e o jogo faça o trabalho automaticamente.


As armas do game estão bem balanceadas e funcionam bem, o hitbox por outro lado é um pouco inconstante, nada no nível Overwatch e não deve chegar a ferir sua experiência, pois os combates são tão frenéticos que talvez você nem note, eu mesmo só fui notar após ler essa reclamação por aí e prestar mais a atenção... ok, talvez então você note agora.

Os poderes do jogo estão ainda mais divertidos do que sempre foram e a liberdade de não ter mais uma classe faz bastante diferença no fim das contas, você pode experimentar mais, testar mais e ter um leque maior de habilidades a sua disposição, ainda que no final eu tenha ficado com minha boa e velha árvore de tecnologia para montar meu Ryder. Mas existem diversas builds fantásticas para se tentar por aí, você pode fazer seu Ryder ser um ninja espacial, com espada, camuflagem e movimentação ultra rápida, você pode fazer seu Ryder ser um telecinético poderoso, arrastando e lançando coisas e inimigos pelo cenário com seus poderes bióticos, você pode ser só um soldado boring com a árvore de combate se você quiser, você pode literalmente ser um mago espacial, com ataques de energia, criação de singularidades e até teletransporte, você pode montar seu personagem como bem entender.

A curva de evolução do personagem nesse sentido também é bastante evidente, no inicio meu personagem tinha dificuldade para lidar com Ketts, no final do jogo eu parecia um boss que os inimigos tinham de enfrentar, com meus combos e táticas, com minha adaptabilidade. Além disso minha build fazia sentido para a forma como eu queria interagir com a história, ser um herói focado em tecnologia, pois os Ketts não compreendem o poder biótico, mas o que eles menos compreendem e mais invejam é o SAM, um I.A. e com isso a tecnologia da via-láctea. Minha ideia de ser o terror dos Ketts narrativamente falando, seria usar a tecnologia da via-láctea contra eles, por isso a maioria das minhas batalhas começavam comigo lançando nanorobôs que diminuíam a defesa do inimigo e em seguida eu disparava dois pequenos projeteis incineradores dos inimigos afetados pela invasão. Sempre que eu estava em perigo usava minha terceira habilidade, para drenar a energia dos inimigos com minha omnitool e recarregar meu escudo. Sobre a minha habilidade passiva? Claro, uma armadura holográfica. Uma tática simples, mas mortal e ainda coerente com minha interpretação do Ryder. Se você ainda não jogou o game, pense em como seu personagem enfrentaria uma raça para a qual você também é um alienígena, provavelmente você terá diversas ideias legais com as árvores de habilidades do jogo.


Sobre a interpretação do Ryder, há aí uma crítica válida, por mais que eu quisesse ser "o terror dos Ketts" o jogo me dava pouquíssimas chances de fazer algo assim dentro da narrativa, a nova roda de resposta nos diálogos, que nós da as opções Casual, Emocional, Profissional e Lógica nos dá uma gama de novas formas de responder sem soar maniqueísta como nos Mass Effects anteriores, PORÉM, eu queria ter uma resposta Renegade para certas situações. Seu Ryder tem uma personalidade muito mais diluída que a do Shepard por causa desse novo sistema que é bem intencionado, mas falha em algo simples, enquanto eu posso criar um personagem tão "Paragon" quanto o Shepard era, usando esse novo sistema, é impossível criar um personagem "Renegade" e tanto os Ketts quanto a Diretora Addison mereciam esse tipo de interação.

Voltando um pouco a trama antes de terminar e sem querer dar spoiler, há ao menos duas pontas soltas enormes que certamente devem ganhar uma DLC cada (e se as DLCs forem sobre isso eu já estou jogando dinheiro na tela), ou quem sabe serem abordadas na sequência, uma delas é a Arca Quariana, com os quarians e as outras espécies da galáxia e a outra é relacionada ao final da sidequest sobre as memórias da família de Ryder, que envolve catar itens brilhantes nos diversos planetas do jogo, o que normalmente é uma droga em qualquer outro jogo, mas aqui não só acaba levando a uma trama importantíssima e não finalizada de Mass Effect: Andromeda, mas também rende uma baita e verdadeiramente emocionante recompensa para os fãs da trilogia original.

Mas Effect: Andromeda está recebendo duras críticas por todos os lados e eu sou do time que acha que criticar duramente as empresas só pode fazer bem, pois isso as faz melhorar no futuro. Ao mesmo tempo no caso de Mass Effect, toda essa atmosfera está passando do ponto gerando um cinismo nada saudável que está impedindo as pessoas de aproveitarem o jogo e talvez até de sequer experimentarem o jogo, se você se enquadra nesse grupo, não tema, Mass Effect: Andromedaé um jogo brilhante, material para o GOTY, que infelizmente está coberto de pequenos problemas, os problemas são pequenos, mas infelizmente são muitos e estão por todos os lados, a parte boa nisso tudo é que todos eles podem ser consertados em patches futuros.
 
Em resumo, problemas pequenos, mas em grande número estão impedindo o melhor Mass Effect já feito de brilhar como deveria, fica com você a decisão de aproveitar essa pérola no estado em que ela está no momento, ou quem sabe daqui a alguns semanas ou meses, quando certamente diversos desses problemas, se não todos, devem estar resolvidos, o que você não pode é deixar passar esse jogaço que é Mass Effect: Andromeda.


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