Infelizmente eu não fui um dos sortudos que descobriu e jogou o pequeno cult que foi o primeiro Mirror’s Edge na época de seu lançamento, eu de fato sequer joguei o jogo original e por isso essa sequência é uma grande novidade para mim do início ao fim e para quem não teve experiência previa com o game divisor de opiniões em 2008, a primeira impressão que Catalyst passa é incrível.
O design do jogo, em todos os sentidos é impressionante. Faithé uma das personagens mais bem-feitas e proporcionais da atualidade, seus movimentos são ágeis e empolgantes e a sua habilidade de parkour é uma maravilha sem igual nos games de FPS. A cidade Glass em uma primeira olhada é belíssima e mostra um visual e um conceito extremamente interessantes. A trama é complexa e cheia de camadas e de personagens que parecem valer o seu tempo.
Infelizmente, nenhuma dessas qualidades iniciais de Mirror’s Edge Catalyst parecem perdurar.
Embora eu ainda ache que Faith seja uma personagem visualmente interessante, afinal mulheres asiáticas de personalidade fortes e realistas não são o forte da indústria, especialmente como protagonistas, e a (provável) captura de movimento da personagem seja de fato fantástica, em termos dramáticos é bem difícil simpatizar ou gostar da Faith ou de qualquer personagem nesse jogo com o desenrolar da promissora história.
O principal ponto do game, contudo, não é a sua trama e nem os seus personagens e sim a sua mecânica impecável de parkour em FPS que parece que foi pensada milimetricamente para a diversão. Desde a forma como o jogo te incentiva a usá-la até a forma como o game “pune” o erro. Na verdade, os erros têm uma punição bem leve aqui, você volta atrás ao último checkpoint se estiver em uma missão e os checkpoints durante as suas jornadas pelos tetos de Glass são bem generosos. Isso acaba um pouco com o fator “desafio”, mas estimula o fator “experimentação”, já que constantemente você se vê tentado a fazer algo bem diferente do que o game te indica, simplesmente por achar que vai ser muito mais épico fazer da sua forma.
Embora seja praticamente impossível achar um problema na mecânica de Mirror’s Edge Catalyst, que é o principal motivador de alguém jogar o game, talvez seja necessário afirmar que a cidade Glass parece desperdiçá-la um pouco.
Voltando lá nos primeiros parágrafos, eu mencionei que Glass era uma cidade bonita, contudo ela é tão bonita quanto um designer de logotipos seria capaz de embeleza-la, um urbanista provavelmente se suicidaria tendo que morar nela. A beleza inerente de Glass dura bem pouco tempo durante a sua exploração, pois rapidamente a cidade deixa de ser bonita e se transforma em maçante e repetitiva, sempre com o mesmo tipo de paisagem e arquitetura branda, com cores belas, mas repetitivas e enjoativas.
É possível que Mirror’s Edge Catalyst fosse um novo marco para a indústria, como o primeiro foi, se Glass fosse uma cidade mais natural, ainda que futurista. Mas tirando o "futurista" da equação, você pode imaginar o que um assassino da Ubisoft poderia fazer nas antigas Londres, Roma ou Paris usando as mecânicas e a movimentação de Faith?
Para finalizar a mecânica em si, o combate tem seus altos e baixos. Dar golpes em inimigos enquanto corre, pula e faz as coisas que a Faith faz é empoderador e totalmente divertido. Nada é mais legal no jogo do que jogar um cara armado de um prédio com um chute impulsionado por um salto absurdo que a Faith fez no segundo anterior. Por outro lado, a física por traz desses belos momentos de combate é um tanto esquisita, pois ela não se sustenta em combates fora de movimento, fora da correria e fora do parkour, exceto se considerarmos que a Faith tem poderes sobrehumanos, pois quando parada, praticamente qualquer chute da personagem é capaz de fazer um inimigo cair da beira de um prédio, não importa se ele estava há 1 metro ou 10 metros de distância da beira desse prédio. Embora o combate em movimento seja bastante divertido, o combate parado parece com aqueles momentos em que você está assistindo um jogo de futebol e um jogador mais fingido se joga no chão se contorcendo de dor, tentando cavar uma falta, após o jogador adversário ter encostado apenas de leve um dedo no ombro dele.
Contudo, apesar de todos os problemas, Mirror’s Edge Catalyst se sobressai como um bom game se você realmente gostar da sua mecânica, o que é o meu caso, especialmente graças ao modo de desafio de tempo e da possibilidade de criar percursos e desafios de parkour e corrida pela cidade. Esse que por acaso é mais um daqueles detalhes milimetricamente pensados para tornar a mecânica do jogo incrível, nesse caso, esses modos de desafio ajudam a você aproveitar mais essa mecânica.
Ainda que o jogo tenha imensas qualidades, todas elas poderiam ter sido melhores trabalhadas, mas acima de todos os defeitos, a mecânica principal do jogo, somada com a fluidez e a graça da movimentação de Faith, assim como os desafios de parkour, vão fazer você se divertir por horas e horas em Mirror’s Edge Catalyst, e essa é a principal qualidade de um bom jogo, só é uma pena que as qualidades de um grande jogo estejam faltando aqui e ali.